Com fortuna de R$ 2 bilhões, Edir Macedo é o pastor
evangélico mais rico do Brasil, diz revista
"Religião sempre foi um negócio lucrativo." Assim
começa uma reportagem da revista americana "Forbes" sobre os
milionários bispos fundadores das maiores igrejas evangélicas do Brasil. A
revista fez um ranking com os líderes mais ricos. No topo da lista, está o
bispo Edir Macedo, que tem uma fortuna estimada em R$ 2 bilhões, segundo a
revista. Em seguida, vem Valdemiro Santiago, com R$ 400 milhões; Silas
Malafaia, com R$ 300 milhões; R. R. Soares, com R$ 250 milhões; e Estevan
Hernandes Filho e a bispa Sônia, com R$ 120 milhões juntos.
Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal do Reino
de Deus, além de ser o pastor mais rico do Brasil, possui templos até nos
Estados e um jato bimotor particular, de modelo Bombardier Global Express XRS,
estimado em R$ 90 milhões.
Macedo tem 10 milhões de livros vendidos, alguns deles
extremamente críticos à Igreja Católica e a algumas religiões africanas. Seu
maior movimento aconteceu na década de 1980, quando adquiriu a rede Record, a
segunda maior emissora do Brasil. Além disso, é dono do jornal "Folha
Universal", que tem uma circulação de 2,5 milhões de exemplares, e do canal
de notícias Record News.
Seguindo os passos de Macedo, Valdemiro Santiago é ex-pastor
da Igreja Universal do Reino de Deus. Após se desentender com o chefe, ele
fundou sua própria igreja: a Igreja Mundial do Poder de Deus, que tem 900 mil
seguidores e mais de 4.000 templos, muitos deles adornados com imagens dele.
Sua fortuna é estimada em R$ 400 milhões.
Silas Malafaia é líder da Assembleia de Deus, a maior igreja
pentecostal brasileira. Entre os pastores, ele é o mais polêmico, e se envolve
frequentemente em controvérsias com a comunidade gay do Brasil, já que declara
ser o maior opositor ao casamento gay. Ele também é uma figura proeminente no
Twitter, onde possui mais de 440 mil seguidores.
Em 2011, Malafaia, cuja fortuna é estimada em R$ 300
milhões, lançou uma campanha a fim de arrecadar R$ 1 bilhão para a sua igreja,
com o intuito de criar uma emissora de televisão global, que seria transmitida
em 137 países. Os interessados podem contribuir com somas a partir de R$ 1.000,
e em troca receberão um livro.
Já o cantor, compositor e televangelista Romildo Ribeiro
Soares, conhecido como R. R. Soares, é possivelmente o mais multimídia entre os
pastores brasileiros. Fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, R. R.
Soares é uma das faces mais regulares da TV brasileira. Ele também é ex-membro
da Igreja Universal do Reino de Deus, além de ser cunhado de Macedo.
Autointitulado "missionário", tem uma fortuna estimada em R$ 250
milhões. Sua aeronave particular, de modelo King Air 350, custa "apenas"
R$ 10 milhões.
Fundadores da Renascer em Cristo, o "apóstolo"
Estevam Hernandes Filho e sua mulher, a "bispa" Sônia, possuem mais
de mil igrejas no Brasil e no exterior – várias delas na Flórida, nos Estados
Unidos. Com uma fortuna estimada em R$ 120 milhões, o casal foi manchete dos
jornais internacionais em 2007,quando foram presos em Miami sob a acusação de
levarem consigo mais de R$ 100 mil não–declarados. Algumas notas estavam
escondidas em meio às páginas da Bíblia, segundo agentes norte-americanos. Eles
voltaram ao Brasil um ano depois, onde respondem por outros crimes, entre eles
a queda do teto de um de seus templos, que deixou nove pessoas mortas em 2009.
Entre seus ex-fiéis mais conhecidos, está o jogador de futebol Kaká, que doou
mais de R$ 2 milhões no período em que frequentou a igreja. Ele deixou a
instituição após as denúncias de fraude envolvendo o casal Hernandes.
Ser um pastor evangélico no Brasil é o sonho de muitas
pessoas, de acordo com a Forbes. Diferente de muitas igrejas protestantes, que
requerem que seus pastores tenham uma graduação, as igrejas neopentecostais
brasileiras oferecem cursos intensivos para "criar" pastores com um
custo de R$ 700, para poucos dias de aula.
Não é apenas uma questão de dinheiro – Malafaia, por
exemplo, chega a pagar salários de R$ 20 mil a seus pastores mais talentosos –
mas também de poder, segundo a reportagem.
Muitos pastores brasileiros conseguiram passaportes
diplomáticos nos últimos anos. Alguns, especialmente os mais ricos, são
cortejados por políticos em época de eleições. Para finalizar, igrejas são
imunes a impostos.
Crescimento dos evangélicos
A Forbes também destaca o crescimento dos evangélicos no
Brasil --de 15,4% para 22,2% da população na última década--, em detrimento dos
católicos. Hoje, os católicos romanos somam 64,6% da população, ou 123 milhões
de brasileiros. Os evangélicos, por sua vez, já somam 42 milhões, em uma
população total de 191 milhões de pessoas.
Para a revista, um dos motivos do crescimento de religiões
evangélicas se dá graças à teologia da prosperidade, segundo a qual o progresso
material é resultado dos favores de Deus. Enquanto o catolicismo ainda prega um
olhar conservador sobre o além-vida, os evangélicos --sobretudo os
neopentecostais-- são ensinados a ter prosperidade nesta vida.
A fórmula parece estar funcionando. De acordo com a revista,
os evangélicos formam uma parte da nova classe média brasileira, conhecida como
classe C. Enquanto isso, os mais ricos e os mais pobres permanecem católicos.
Os evangélicos não só usufruem de seus bens como doam uma
parte de sua renda à igreja – prática conhecida como "dízimo" e que
também está presente em outras religiões cristãs. Isto faz com que certas
igrejas pentecostais sejam negócios altamente lucrativos, e seus líderes,
milionários. É a chamada "indústria da fé".
Outro lado
O pastor Silas Malafaia afirmou, por sua vez, que sua renda
pessoal não é a informada pela revista Forbes. "Se juntarmos a receita da
igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que não é minha, mais a renda da
Associação Vitória em Cristo, que não é minha, mais o faturamento da Editora
Central Gospel, que é de minha propriedade, mais as ofertas voluntárias que
recebo pelas palestras ministradas, chegaremos aproximadamente à metade do que
foi anunciado pela Forbes como minha renda pessoal anual", disse, em uma
nota.
"Tudo o que tenho está declarado na Receita Federal.
Não devo e não temo a nada", continuou. Malafaia ainda destacou que
"o que está em jogo é uma mensagem para criar na sociedade preconceito
contra pastores e igrejas evangélicas".
Ele reiterou que não recebe "salário de igreja
nenhuma" e informou que a Forbes "será inquirida judicialmente".